segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Férias II



A praia para onde fomos a maior parte dos dias é umas das 27 maravilhas de Angola: é a praia da Caotinha. Para lá chegar demorávamos cerca de 20 minutos. Metade do caminho era em estrada alcatroada e a outra metade em terra batida.
Pouco antes da praia, passávamos na aldeia da Caota. Esta é uma aldeia típica africana com tão pouco mas com tantos sorrisos!
 
Os animais fazem sempre sucesso!
 
Ainda eu digo que a Margarida anda sempre sujinha...
E digam lá se estes sorrisos não são verdadeiros?
 
 
Os miúdos adoravam ver os locais, dizer-lhes adeus e olhar os animais. Claro que à medida que passavam na aldeia choviam as perguntas sobre as diferenças que encontravam entre a nossa realidade em Portugal (e até mesmo em Luanda) e aquela aldeia com aquelas "casas" e aqueles meninos com aquelas roupas e sem sapatos e sem bicicletas e sem brinquedos e sem...
 
Eu acho muito difícil responder àquelas perguntas, mas acho ótimo que eles tenham um outro olhar sobre o que os rodeia, principalmente ali naquela aldeia. Sim, porque aqui em Luanda e no colégio que frequentam, os amigos ainda têm mais do que eles. Têm i-pads,  PS 1,2,3  e a 4 que está para sair, telemóveis topo de gama, ténis de marca (o resto é a farda do colégio e não é de marca, embora pelo preço que custou bem podia ser!), vão de férias para o Dubai e mais uma lista de coisas onde o dinheiro está sempre presente.
 
Até para mim ainda hoje me custa perceber esta realidade aqui de Angola onde uns têm tanto e outros tão pouco. Como é que eu vou conseguir, por palavras, explicar isto aos meus filhos?
Acho que a pouco e pouco eles vão constatar que isto é a realidade de alguns países e talvez (talvez mesmo!) passem a dar mais algum valor ao que têm.
 
Quando vos digo isto lembro-me de alguns dos dias que passámos na praia. Assim, que chegávamos, por volta da hora do almoço, tínhamos sempre companhia de alguns rapazes da aldeia que se juntavam a nós. Vinham pela companhia, pelos jogos à bola e talvez por mais qualquer coisa... a praia estava sempre por nossa conta (aqui ainda estamos no tempo do cacimbo e as pessoas não vão à praia pois está frio... para eles porque os Britos todos os dias entravam na água para uns bons mergulhos!) e depois de algumas brincadeiras era hora de almoçar. Do almoço constavam sandes, fruta, sumos, bolachas, ou seja, era almoço de praia!
Foi nesta altura que percebi que aqueles miúdos passavam o dia connosco ali na praia sem comer e beber NADA. Nós chegávamos por volta do meio dia e saíamos cerca das quatro da tarde e eles ali ficavam o tempo todo. O mais novo devia ter uns 7 anos e o mais velho uns 11 anos. Claro que começámos por lhes dar bolachas e outras coisas que trazíamos e era horrível vê-los a dividir a comida e perceber que era um "salve-se quem puder" onde os mais velhos acabavam por ganhar a melhor parte. Nos dias seguintes era o Rui que dividia a comida entre eles de modo a não haver guerras.
Claro que foi aqui que os meus filhos ficaram mais chocados e foi onde voltaram a chover perguntas. Porque, no fundo, eles sabem que existem muitos meninos que não têm todos os brinquedos e afins que eles têm, mas meninos que não têm bolachas e água, isso acho que não lhes passava pela cabeça!
E ainda vos conto outro episódio que aconteceu com o Martim: um dos dias para além dos rapazes apareceu um cão com eles. O Martim, na sua inocência, resolveu atirar uma bolacha para o cão. Claro, que um dos rapazes apanhou imediatamente a bolacha que era para o cão e comeu-a. O Rui teve que explicar ao Martim que não podia dar de comer ao cão se os rapazes estavam cheios de fome. Ele entendeu e não voltou a fazer.
 
Estas são coisas que não se esquecem e que acho que ficam na nossa memória para sempre. Mas para sempre ficam também os dias passados na praia com os rapazes que não tinham nada, mas que eram amorosos com as miúdas mais novas, atenciosos e muito prestáveis comigo e com o Rui, companheiros de futeboladas e de saltos da prancha do B e do M, e sempre com um sorriso de orelha a orelha! 
 
Os rapazes e as futeboladas!
 
Os saltos da prancha eram bem divertidos!
 
 
E assim se passaram os dias nesta praia que não deixa ninguém indiferente!
 
Esta vista é de cortar a respiração
 
Nós...
 
No último dia de praia foi até ao pôr do sol...
 
 
 
 
 
PS: Só de jipe é que se chega a esta praia pois existe uma subida de terra batida onde os carros "normais" não conseguem passar e ficam enterrados na areia. Nós levámos os dois jipes, mas um deles tinha o sistema de tração às 4 avariado, logo subíamos apenas com um com a malta toda enchouriçada!!! Mais um motivo de risota para os Britos!
 

1 comentário:

  1. snif outra vez por causa dos miúdos da Caota... (ps - vivo em Luanda, morro de saudades de Portugal, estou grávida de 7 meses e as hormonas andam malucas...rsrsrs). Estou a adorar o seu blog Marta. Uma Marta de M Grande :-) E que família fantástica a vossa!

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