sexta-feira, 27 de junho de 2014

Nascer em Angola


Li há poucos dias, uma notícia que dizia ser Angola um dos 5 piores países do mundo para nascer e, ouvi uma notícia, num canal de televisão português, onde referiam Portugal como estar entre os 10 países do mundo melhores para nascer. Acho que foi bom não saber disto enquanto estava grávida! Tinha-me de certeza deixado nervosa apesar de tantas vezes me terem perguntado "se as angolanas vão ter os filhos a Portugal porque é que tu vais ter o Zé Maria em Luanda?". 


Quando engravidei senti-me um bocadinho perdida confesso. Estava noutro país e não tinha referencias nenhumas. O obstetra mais querido do mundo e arredores (Dr. Francisco Brito Palma) estava a milhares de kilometros de distância e os hospitais e clinicas portuguesas também! Liguei a uma amiga enfermeira que estava por cá há pouco tempo mas que poderia ajudar-me. Pedi-lhe nomes de obstetras e no dia seguinte ela deu-me uns 4 nomes e respetivas clinicas onde trabalhavam. E foi assim que cheguei à Dra. Eulália, uma portuguesa do norte e que me acompanhou durante a gravidez. Eu e o Rui chamavamos-lhe "o Ferrari das obstetras de Luanda"! As consultas com ela são mais caras  5000 kuanzas do que com qualquer outro médico da mesma especialidade. Gostámos imenso da doutora e depois de 3 consultas decidimos que o bébé iria nascer em Luanda com ela e naquela clinica. 

As semanas foram passando e, numa ultima consulta, a doutora disse-me que se não nascesse até ao dia 21, então que fosse ter com ela nesse dia, pois induzia o parto. Organizámos a nossa vida pois aqui as ajudas são menores. As amigas R e S vinham cá para casa e ficavam com os miúdos e eles estavam todos contentes!
Chegámos à clinica 6ª feira, bem cedo, e então informam-nos que a doutora estava de baixa e talvez voltasse 2ª feira. Pela primeira vez fiquei nervosa... toda a gravidez com ela e agora  com quem é que faria o parto? 
Acabei por ficar, fazer um CTG e fui então atendida outra médica, a Dra. Anabela. Também portuguesa e também do norte. Gostámos logo dela e da sua disponibilidade! Como estava tudo bem com o bébé decidimos esperar até 2ª feira. 

Zé Maria não quis esperar... sábado à noite comecei com contrações, cheguei à clínica passava pouco da meia noite e, depois de observada pela enfermeira parteira, fiquei internada. A clinica estava quase vazia... eu era a única na parte da obstetricia. Claro que a esta altura do campeonato já só pensava em epidural! E lá chegou uma epidural vinda de Cuba... o anestesista era muito simpático mas as dores foram apenas aliviadas... a dada altura a enfermeira parteira adormeceu no sofá à minha frente, e eu pensei que ela não estava muito interessada em que a coisa acontecesse durante a noite. Isto porque nem sequer me tinha posto a soro com alguma medicação, o que sempre fizeram durante todos os outros partos. Felizmente, de repente, tive a sensação de me terem atirado um balde de água para cima! Chamei a enfermeira umas 5 vezes mas ela só ouviu quando o R lhe tocou no ombro. Passados 15 minutos chegou a Dra. Anabela e a pediatra, fomos até à sala de partos e em menos de 10 minutos ouvimos o choro do Zé Maria! 
 

Mais um presente de Deus! Eram 3:50 h e tinha corrido tudo bem... o bébé tinha 2620 g (ratinho!) e estava óptimo. O pai não caiu para o lado e até conseguiu filmar tudo e tirar fotos  com o telemóvel! E eu estava pronta para outra!!!!!!!! Ahahah!!!!!!! Estou a brincar! 


E assim terminou uma história com final feliz! A história de um bébé que nasceu em Angola, saudável e sem complicações... Claro que há outras histórias de outros bébés que podem não ter finais felizes, e que podem acontecer neste país ou noutra qualquer parte do mundo. Mas sobre injustiças e outros mistérios da vida tenho muita dificuldade em me pronunciar... 

Entretanto, começou outra história aqui por Luanda... um bébé delicioso que cresce todos os dias num país onde a taxa de crianças que morre até aos 5 anos é das maiores do mundo. Bolas! É difícil lidar com estas realidades... mas as coisas estão a mudar e a evoluir. E Angola é dos países que mais cresce todos os anos e acredito que as condições de vida da população vão melhorar... espero que o mais breve possível!