sábado, 13 de setembro de 2014

Como sobreviver com 8 filhos na cidade mais cara do mundo


Pois é! Não é muito fácil, de início foi complicado, mas não é impossível! 
Claro que a ginástica é mais que muita e, seja aqui por Luanda, ou noutra cidade do mundo, nós, famílias numerosas, aprendemos alguns truques para que o dinheiro chegue ao final do mês. Em Portugal, e antes de nos reunirmos todos aqui, estava a ser cada vez mais difícil chegar ao final do mês com uns euros no bolso. Por aqui, felizmente, sobram alguns kuanzas no final do mês, mas os sacrifícios saem-nos do pêlo... Angola não é sinónimo de euromilhões! Pelo menos para os Britos!
A cada dia que passa, chegam mais portugueses a Angola para trabalhar. E, se há uns tempos atrás, não se viam muitas famílias (normalmente vinha só o homem da casa), agora são cada vez mais os casais que vêm e que trazem os filhos. E ainda bem pois muitos casamentos foram por água abaixo com a distância! Bom, mas isso dava outro post e vai ficar para outra altura! Voltamos à batata quente... ainda muitos estão a decidir se juntam a família ou não e, assim, resolvi partilhar um pouco da minha curta experiência por terras angolanas, no que diz respeito aos pinos, rodas, cambalhotas e afins que fazemos por aqui de modo a chegar ao fim do mês com algum "kumbu" (dinheiro na gíria angolana). Aqui vai:


1. Conhecer todos os supermercados num raio de 30 Km. Visitá-los a todos! E quando digo isto é mesmo do género visita de estudo, com papel e caneta, para apontar todos os preços dos produtos mais consumidos em casa. E passo a explicar o porquê: aqui os preços variam e muitoooooo, ou seja,o mesmo produto (da mesma marca) pode custar 3, 4 ou 5 vezes mais num supermercado do que noutro. Assim, o que os Britos fazem é ir ao supermercado X comprar os produtos que são mais baratos aqui, depois ir ao supermercado Y comprar outros produtos e por aí fora. Normalmente chega visitar 3 supermercados (só!). Vou dar um exemplo: as fraldas e toalhetes compramos no Deskontão, os legumes e fruta no Intermarket e os detergentes no Kero.
Ainda nos supermercados, convém estar sempre de olho aberto nas promoções. Nestas alturas vale a pena reforçar a dispensa e comprar em maiores quantidades. Sempre sem esquecer a data de validade pois muitos supermercados fazem grandes (enormes!) promoções porque a validade está a acabar. Há uns meses comprámos na Maxi uns cereais de pequeno almoço a 99 kuanzas a caixa (cerca de 0,75 euros) que estavam em promoção pois a validade acabava em 15 dias. O preço anterior era de 750 kuanzas (cerca de 5 euros)! Claro que trouxemos imensas caixas e tirámos a barriga de misérias porque de outra forma não compraríamos aqueles cereais! Na passada terça-feira, encontrámos no Kero iogurtes grego de pêra em promoção e desta vez não tinha a ver com o prazo de validade. Comprámos cada conjunto de 4 iogurtes a 399 kuanzas e o preço antigo era de cerca de 1500 kuanzas, ou seja, 10 euros (os iogurtes frescos aqui são um atentado ao nosso bolso, e assim, acabamos por comer iogurtes que não necessitam de frio). Digo-vos que foi a primeira vez desde que aqui estou que comi um iogurte grego... imaginem agora o meu frigorífico quando estou em Portugal!!!
Relativamente a este ponto e para terminar, o melhor dia para ir ao supermercado é ao domingo pois em vez de demorarmos 1 ou 2 horas chegamos em 20 minutos. No entanto, ao dia de semana há mais promoções. Complicado!


Promoção de tremoços
(era 1518 Akz agora 99 Akz)

2. Almoçar ou jantar fora apenas quando o rei faz anos. Literalmente! O último jantar em família foi o do dia do pai e, apesar de dividirmos as doses, e não comermos sobremesas, ficou em quase 200 euros! Uma vez ou outra fazemos uns almoços ou jantares a dois que nunca ficam por menos de 40 euros... e falo-vos de restaurantes bons mas sem estrelas michelan!
O único fast-food que existe por aqui é o KFC mas a refeição custa cerca de 12 euros. Recuso-me a gastar 100 euros ou mais em fast-food. Internem-me se tal acontecer!!!


Almoço a dois

3. Usar e abusar da bimby! 
É ótima para as sobremesas. Os bolos são muito caros e se comprarmos os ingredientes e fizermos em casa sai muito mais em conta. Aqui há bolo quase todos os dias! Nas festas de anos também é uma vantagem...


Bolo maluco

A carne picada rende imenso na bimby e usamos muito no esparguete à bolonhesa, lasanha e canelones.
As pizzas também são muito caras, para não variar! A sugestão é fazer a massa na bimby e cada um faz a sua própria pizza a seu gosto (aqui até devemos aproveitar restos que estão no frigorífico)... a cozinha fica um bocadinho porcalhona mas a alegria dos miúdos compensa!
E quem não tem bimby? Claro que também consegue! (Mas assim que sobrar uns trocos compre uma pois depressa recupera o investimento!) É uma questão de fazer quase tudo em casa, tudo caseiro!

Não, não vendo bimbys! Não, não me ofereceram nenhuma bimby! É a minha opinião pessoal e vale o que vale!
Até vos digo que a minha "morreu" há cerca de 15 dias... foi novamente atacada pelas baratas... malditas! Agora espero chegar a Portugal e que o santo do meu pai a ressuscite... senão vou ter que fazer o sacrifício de comprar a nova bimby que saíu a semana passada e é um espetáculo!


4. Fazer muitos programas ao ar livre, mas levar o "farnel" de casa! Existem muitos locais giros a visitar e conhecer e que podem ser mais ou menos longe de casa. Existem praias muito giras e podemos usufruir delas durante praticamente todo o ano. A gasolina e o gasóleo são muito baratos e portagens quase não existem, logo há que aproveitar! Mas nada como levar uma lancheira com comida e bebida pois os restaurantes são caros (como  já disse) e nem sempre existem.


5. Não visitar muitas lojas (embora também não existam!) de modo a não cair na tentação de comprar algo que em Portugal custe metade (ou muito menos!) do preço marcado aqui. 
Felizmente começam a chegar ao mercado angolano algumas lojas com preços iguais ou pouco maiores dos praticados em Portugal. Quando estamos a "ressacar" por falta de compras então podemos passar uma tarde numa destas lojas (eu aqui tenho a Seaside e o Espaço Casa, por exemplo) e o estrago é menor!


6. Fazer uma mini farmácia em casa. Por cá já existem todos os medicamentos que precisamos mas mais caros, logo devemos trazer tudo de Portugal. Esta regra serve também para material escolar, papas de bebé (chega a custar 7 ou 8 euros uma embalagem) e tudo o que seja possível trazer no avião. Quando o stock acaba, há sempre um amigo que não se importa de trazer o que está em falta



E, por último, falta referir cinco coisas muito importantes, mas que não se encaixam nos pontos acima:

As rendas das casas praticadas em Luanda são muito altas (cerca de 1500 USD) e normalmente temos que adiantar a renda do um ano inteiro, logo convém acordar isso com a empresa com quem se vai trabalhar. 

Os colégios também são todos muito caros, principalmente os portugueses e os internacionais. Pelo que conheço a média varia entre os 1000 e os 1500 USD por criança, à exceção da Escola Portuguesa de Luanda que ronda os 500 USD, mas que tem listas de espera grandes e onde o fator C pode funcionar! No nosso caso era impensável ter 5 crianças a estes preços, logo a opção foi o ensino particular angolano. Tem algumas lacunas que eu como professora vou tentando colmatar e quando um dia voltarmos, logo se vê! 

E agora a saúde. Uma consulta de pediatria pode variar entre os 8000 Akz (cerca de 55 euros) e 15000 Akz (cerca de 100 euros), o que é relativamente idêntico aos preços praticados no particular em Portugal. O que é extremamente caro são as análises e alguns exames. Um internamento no particular nem se fala! Assim, já existem vários seguros de saúde que cobrem muitas destas despesas. No nosso caso, a empresa do Rui paga todas as despesas de saúde relacionadas com o trabalhador mas não com a família. E assim foi quando ele esteve internado com malária. A maior despesa de saúde que tivémos foi o parto do ZM que rondou os 3250 USD. O seguro de saúde para cada criança ronda os 1000 USD por ano e ficou, por enquanto, adiado. Rezamos para que continue a correr tudo bem!
Um ponto muito positivo e que não posso deixar de referir tem a ver com as vacinas dadas aos bebés. A única vacina que não está no plano é a Meningite C, ou seja, a Prevenar e a Rotavírus são dadas a custo zero! Em Portugal pagaria cerca de 150 euros pelas duas (por cada dose).

Existem outras despesas que aparecem uma vez por ano, como é o caso dos vistos de permanência no país. No caso dos Britinhos, os vistos estão agregados ao visto de trabalho do Rui. Cada um custou 20000 Akz (cerca de 150 euros). No meu caso custou 12000 Akz. Fazendo contas a tudo cerca de 1600 euros. Pena que aqui não fazem descontos para famílias numerosas!

E, por fim, a maior e mais desejada despesa de todas... 10 bilhetes de avião para Portugal! Claro que o Natal só podia ser com o resto da família! São dias para matar saudades de tudo e de todos... de coisas banais como iogurtes gregos! Assim, começamos a ver preços de viagens com muita antecedência. Comparamos várias companhias aéreas pois nem só a Tap e a Taag viajam para Portugal. Existem outras que fazem uma escala e que, por vezes, têm preços mais baixos, como a KLM, a Emirates, a Ibéria, entre outras. A primeira vez viemos pela BA (escala em Londres) e na segunda foi direto pela Taag. Este ano, as viagens já estão compradas desde Junho e vamos fazer escala.


Resumindo e baralhando, cada um deve decidir de acordo com a sua realidade e tendo a noção que cada caso é único. No que me diz respeito, e como já disse noutros postes, o que pesou mais na nossa decisão foi como se diz por aqui o "tamos juntos!". E estamos bem...








quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Ébola


As notícias sobre o ébola chovem por aqui... cada vez está mais próximo de Luanda e claro é um assunto que me preocupa. Mas tudo com conta, peso e medida! Não vale a pena sofrer por antecipação!

Há poucos dias, os meus rapazes mais velhos, saíram por breves momentos do mundo da playstation, facebook e jogos online no telemóvel, e acordaram para a vida... e, de repente, perceberam que existe uma doença chamada ébola que não tem cura, que já matou umas quantas pessoas (muitas infelizmente...) e que se aproxima a passos largos de Angola. Eu fui respondendo às dúvidas que me punham mas sempre sem alarmismos e com muito calma... mas a preocupação deles continuou. Apesar de serem distraídos, sabem bem como são os cuidados de saúde por aqui e a pergunta chave e que ficou com uma resposta vaga foi "se chegar aqui, vamos logo para Portugal?" 

Sinceramente nem eu sei o que pensar... consegui acalmar os ânimos mas cada vez que ouvem notícias (são poucas as vezes!) querem saber novidades sobre o ébola. Rezo para que não chegue a Angola pois já nos chega toda a bicharada que por aqui anda e que provoca tantas doenças (e muitas mais mortes do que o ébola). Não merecemos mais uma! 


Mãe devia ter uma redoma gigante onde pudesse colocar os filhos lá dentro e protegê-los de todas as doenças possíveis e imaginárias! Só das doenças... as contrariedades, as frustrações, as cabeçadas, essas fazem parte da vida e ajudam a crescer!



Naquele dia das dúvidas, já os rapazes sonhavam com a vida novamente em Portugal! E dei com eles novamente a fazerem mil e um planos... a certa altura a Bia pergunta ao Martim:
- Não estás ansioso por voltar a estudar lá?
- Não! Estou é ansioso por ter uma namorada! Já estou fora de ação há 2 anos... 

Sim, o Martim só tem 10 anos! E eu estou a ficar "cota", definitivamente!


terça-feira, 2 de setembro de 2014

Saudades...


Há dias assim... por aqui...
Hoje foi dia de início do 3º trimestre e dia em que, por vezes, pensei "já só faltam 3 meses" e outras vezes "ainda faltam 3 meses". Um ano inteiro à espera de cerca de dois meses que passamos em Portugal! É obra!
Estamos em Luanda há sete meses e começamos a entrar na fase crítica das saudades... e são saudades de tudo! Das pessoas, dos sítios, das cores, dos cheiros, dos sabores,...

Hoje, e nos poucos bocadinhos que tenho ao longo do dia só para mim, pensava como seria o meu dia se estivesse a viver em Portugal. E dei por mim a sorrir! Porque me teria levantado cedo e bem disposta depois de umas férias fantásticas no Algarve (não imaginam as saudades que eu tenho daquele cheiro e daquele sol e daquelas praias, mesmo passando o ano inteiro de havaianas no pé!). E apesar de ter mil malas para desfazer e mil e uma roupas para lavar, lá ía eu toda contente levar os mais pequenos à escola... e seria o primeiro dia do ZM na escola... mas também seria uma excitação para a Carlota e para a Margarida e eu iria adorar ver a reação delas ao reverem os amigos e as educadoras e auxiliares... e ficaria imenso tempo nas salas e nos corredores a conversar com as educadoras e com outras mães e voltava às salas e espreitáva-os para saber se choravam ou não... e saía de coração apertadinho mas com a certeza que estavam com pessoas que lhes dariam muito mimo e colinho! Depois ía descomprimir e beber café e conversar com as amigas de sempre e que me fazem tanta falta! E lá voltava para casa onde ficaram os mais velhos e continuava na roupa... bah!!! Mas como a dispensa ainda estava vazia, lá ía com eles ao supermercado e, aproveitávamos para almoçar fora num dos centros comerciais perto de casa. E cada um escolhia o que queria comer e a comida era barata!!! (Aqui esta parte é impossível!) E o dia continuava entre as compras, a organização do regresso às aulas, as tarefas de casa, o ir buscar os mais novos à escola, a apresentação na escola onde tivesse ficado colocada, o jantar com todos à mesa e o cair para o lado à noite! 

Fiquei cansada só de escrever este bocadinho! Mas continuo com um sorriso nos lábios... porque esta aventura por aqui é boa, mas não deixamos de pensar em voltar... um dia! E com a certeza de que quando esse dia chegar vamos ter saudades... daqui!


Bom, e como sou ótimista, vou então pensar que já só faltam  3 meses! Senão morro de...